sábado, 1 de janeiro de 2011

Moonwalker in the sky



Não me interessa falar de recordes, de máscaras, de nariz, de vitiligo, de pedofilia, de Wacko Jacko e de um monte de coisas que não são mágicas. Disso tudo, suspeito que nosso herói tenha sido também uma vítima. Falamos da mesma pessoa sob perspectivas diferentes. Mas tudo bem. Quer dizer, estava quase tudo bem até Michael Jackson morrer de repente. E de repente eu também morri.

Um pedaço de mim foi embora. Ainda me lembro quando, em tempos distantes - e muito mais bonitos -, uma pequena célula colorida nasceu, fincou raizes e começou a tomar os tecidos de meu corpo até dominar minha força centrípeta. Eram as primeiras vezes que meu esqueleto vibrava e que meu cérebro tentava, em vão, imitar os passos de alguém, pela sala de casa. Moonwalker. Walking on the moon.

Foi ouvindo - e vendo - Michael Jackson que eu entendi o que era arte . A mais pop , imediata, acessível, e não menos legítima do que todas as outras. Percebi o que era música e cada um dos instrumentos musicais. Comecei a pesquisar. Descobri o vinil - meu primeiro disco foi o Dangerous, que minha avó me deu. Também passei a trancar a porta do quarto para sonhar e percebi que, de alguma forma, eu também queria fazer música ou viver dela. Frio na barriga para ver o show na tevê. Emoções novas e um estalo, que agora me acomete outra vez: paixão é uma coisa que move as pessoas pela órbita implacável das suas obsessões.

Foi quando eu vi que conhecia muito bem alguém que nunca tinha conhecido. E de vez em quando, Michael Jackson me abraçava tanto, tanto e tanto, que até o travesseiro cansava de fazer de conta. Lambia a tela da tevê quando ele aparecia. Escondia o pôster no fundo da mochila. Escrevia meu nome nos corações das capas dos discos, na coleira do tigre de Thriller. Tudo isso era segredo, mas agora vou dizer que tantos anos depois, o que eu queria mesmo era dar nele um grande abraço. Taí, um abraço. Não foi nessa vida, Michael, mas ainda te vejo dando a volta por cima. E muito obrigada, sobretudo, pelo rastro que você me deixou: gravidade, movimento e fulgor.

Renata D'Elia

Fonte: http://magiconsundays.blogspot.com/2009/06/um-abraco-michael.html


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