quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Gloria Maria falando de Michael Jackson



A jornalista Glória Maria foi admiradora de Michael Jackson, não por sua música, dança ou sucesso, mas, por conta da grande pessoa que ele sempre foi. Após a morte do Rei do Pop, ela desabafou sobre seu encontro com o mesmo, quando ele veio gravar o clipe They don't care about us no Brasil.


"Comigo, as coisas não são normais. Eu não entrevistei o Michael Jackson, foi ele quem me entrevistou. Eu o acompanhei quando gravou na Bahia e fiquei negociando para ver se ele falava comigo. Estávamos no Pelourinho e o Michael viu o carinho do povo comigo, então, disse que conversaríamos no Rio.


Quando chegamos, subi a favela e a gente ficou conversando uns 20 minutos. Ele me perguntou como tinha sido o meu início. Contei que vim de uma família pobre, mas que tinha conseguido estudar. Ele queria saber se não havia discriminação e racismo no Brasil. Respondi que sim e ele ficou muito interessado em saber mais. No pouco tempo que fiquei com ele, tive um vislumbre do ser humano bacana que era.

Vi o seu braço e pedi para passar a mão. Ele tinha uma pele muito fina e dava para ver que o corpo era todo tomado pela doença, o vitiligo. Como tinha pouquíssimas partes mais escuras, realmente seria mais fácil clarear o pouco que restava de escuro. Aí, notei um buraco no nariz dele e vi que ele ficava sempre com uma gaze tampando. Perguntei o que era aquilo e ele disse que foi consequência da segunda cirurgia que fez, porque tinha um desvio de septo e que, por causa disso, ficou com uma infecção crônica no nariz.

Naqueles poucos minutos, alguns dos tabus que todo mundo tinha, para mim, acabaram. Fiquei triste comigo mesma por ter entrado nessa história que todos comentavam sobre o seu embranquecimento, por ser uma coisa alheia à vontade dele.

Quando Michael terminou a gravação, fiz a passagem e ele ficou quietinho, humilde e com cara de bobo, esperando eu falar, mas sem entender nada do que eu dizia. E fez a declaração, dizendo “Eu amo o Brasil”. Foram várias surpresas em um encontro curto. Vi que era uma pessoa frágil, simples, sem frescura. No final, ele me puxou, me abraçou e me beijou. Aquele mito de que ele dormia numa bolha caiu. Eu estava imunda, cheirando mal, e ele me abraçou sem nojo, sem restrição.

O que me impressionou muito foi o olhar dele, de tristeza o tempo todo. Só vi o olho dele brilhar, parecendo criança, quando estava com o Olodum. Michael pulava, corria de um lado para o outro, no Pelourinho. Spike Lee, que era o diretor do clipe, nem o dirigiu, só captou a espontaneidade dele.

Fui pega de surpresa com a notícia da morte do Michael. Tive uma sensação de tristeza profunda. Ele foi um ser humano que não conseguiu ser feliz, não conseguiu ter serenidade na vida, apesar de ser um ídolo mundial. Todo mundo sabe que a vida dele, desde que nasceu, foi puro sofrimento.

Esqueceram a pessoa que estava ali e, pelo menos para mim, ele demonstrou ser muito generoso. Para mim, ele não foi um ídolo, pois só gostava da música dele na época dos Jackson 5, mas, como ser humano, sempre me intrigou. Eu tenho identificação de alma com ele. Somos duas pessoas que, cada uma à sua maneira, conseguiram vencer”
 
Em outra ocasião, Gloria Maria deu outro depoimento:




“É um momento de tristeza. Michael Jackson era extraordinário. Não que fosse fã das suas músicas. Gostava do Jackson 5, do soul. Quando ele ficou mais pop, começou essa onda do Thriller, passei a não curtir tanto. Não é a minha. Sou mais blues, bossa nova. Mas, Michael Jackson sempre me fascinou e intrigou. Pela história de vida dele. Acho que em nenhum momento Michael teve o direito de ser feliz.

Talvez tenha presenciado um de seus raros instantes de felicidade: o encontro com o Olodum, em Salvador, em 1996. Ali, no Pelourinho, ao som dos tambores, vi um menino brincando. Dançava e pulava eufórico. Tenho certeza de que aquele momento ficou marcado para sempre na vida dele. Acho que ele era uma pessoa em busca de serenidade.

Felicidade, ele sabia que não encontraria. As luzes do palco não bastaram para iluminar um sofrimento tão visceral. Se pensarmos na história dele, em tudo o que viveu. Um menino negro nos Estados Unidos naquela época, sem direito a infância, maltratado pelo pai. Li que ele tinha tanto pânico do pai que vomitava quando ele se aproximava.

Michael foi massacrado, alvo de ataques, muitas mentiras foram ditas a respeito dele. O processo de embranquecimento, por exemplo. Com certeza, começou com o vitiligo. Não foi opção. Eu vi. Toquei na pele dele. Havia poucos pontos negros no braço dele.

Nos conhecemos em Salvador, quando ele encontrou o Olodum. Não queria dar entrevista. Mas quando viu que as pessoas me reconheciam na rua, quis me conhecer. Marcamos de nos encontrar no Morro Dona Marta, no Rio. Ele passou 15 minutos sentado comigo numa laje, conversando. Eu é que fui entrevistada. Michael queria saber como uma negra, pobre, tinha conseguido trabalhar como repórter da principal emissora do país e fazer sucesso.

Michael me ouviu com humildade, o maior interesse. Foi um momento especial, um dos mais marcantes da minha vida profissional. Espero que Michael, enfim, tenha encontrado a serenidade".

                    Créditos: Juliana Soares





               Créditos :: MJJ Give In To Me


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