Às vezes fico imaginando se J. M. Barrie enquanto escrevia a estória de Peter Pan realmente acreditava que na vida real pudesse haver pessoas que se identificariam com seus personagens mágicos e incomuns. Peter Pan, Wendy, Sininho, vivem mais nos corações daqueles que não tiveram a oportunidade de viver sua infância. Diferentemente da estória de Barrie, eles não são garotos perdidos, são garotos que tiveram a infância roubada.
Desde que Barrie publicou sua obra “Peter e Wendy” em 1911, muitos Peters, Wendys e Sininhos surgiram nas décadas seguintes, mas foi somente nos anos 60 que surgiu um garoto que sofria por não poder viver coisas comuns a sua idade, um garoto que desejava ansiosamente desfrutar de sua infância, mas constatava com imensa tristeza que ela lhe era negada.
Quando esse garoto cresceu, ele jamais se recuperou da perda que sofrera. Ele se recusava passar pela viva sem saber o que é ser uma verdadeira criança, o que é sonhar, imaginar mundos fantásticos onde não existem a dor e a tristeza, onde todos são amigos e heróis que lutam contra toda a maldade e sempre acabam saindo vencedores nessa luta contra o mal e a injustiça.
Esse garoto um dia leu a estória de Peter Pan e com lágrimas nos olhos reconheceu: “Eu sou o Peter Pan no meu coração”.
E como todo Peter Pan precisa de uma Terra do Nunca, Michael Jackson construiu duas Neverland, uma real e outra em sua própria mente. Ele não tinha pó mágico, mas mágica saía de seus pés. Ele não tinha asas, mas sabia flutuar. Ele era de carne e osso, mas se parecia mais com um ser encantado, tamanho era o fascínio que ele inspirava em nós, meros mortais.
Além da Terra do Nunca, um Peter Pan precisa de amigos para poder brincar, a sua família na terra encantada. Ao longo de sua vida, Michael pouco a pouco foi reconhecendo os personagens de Barrie na vida real. Ele encontrou a fada Sininho na pessoa de Shirley Temple e a Wendy em Elizabeth Taylor, ambas foram atrizes mirins que assim como Michael, também tiveram a infância roubada.
Apesar de ter conhecido Temple pessoalmente, o mais próximo que Michael se sentia dela era através de uma foto sua que ele mantinha ao lado da cama e de seus filmes infantis. Talvez mirando seus olhos ele pensasse consigo mesmo: tanto encanto à custa de tanta dor.
Mas foi Wendy, ou melhor, Elizabeth Taylor quem esteve ao lado dele em muitos dos seus bons e maus momentos desde que se tornaram amigos. Michael ofereceu a Elizabeth à oportunidade de fugir desse mundo cruel e viver na Terra do Nunca de vez em quando, e foi ao lado dele que ela redescobriu a sua infância roubada e viveu algumas de suas maiores alegrias.
Porém, uma estória não é feita só de heróis, os vilões sempre se fazem presentes na figura de uma pessoa malvada e cruel. Capitão Gancho era o homem que desejava acabar com a alegria de Peter Pan e seus amigos. Assim, Michael Jackson encontrou dentro da sua própria família e na pele de seu próprio pai esse Capitão Gancho e com o passar dos anos muitos outros foram surgindo: a mídia, os Chandler, Martin Bashir, os Arvizos e por aí vai. Porém, corajosamente Michael “Peter Pan” Jackson com a ajuda e força de sua fiel amiga Elizabeth “Wendy” Taylor enfrentou e venceu cada Capitão Gancho que se levantou para destruí-lo.
Durante toda a sua vida mortal, Michael Jackson enfrentou bravamente muitos inimigos, passou por intensos momentos de angústia, mas sem se permitir perder a magia de viver com alegria, amor e pureza.Um dia o Deus do Céu decidiu que já era hora de Michael Jackson deixar a Neverland terrestre e construir a sua Neverland celeste. E foi assim que o nosso Peter Pan partiu desta Terra para uma melhor deixando milhares de fãs e amigos ao redor do mundo órfãos do seu amado e mágico homem-criança.
Possivelmente ninguém sentiu mais a perda de Peter Pan do que seus filhos e sua fiel amiga Wendy. Apesar de existirem muitos garotos que tiveram a infância roubada, Elizabeth se sentia só porque Neverland só existia onde existisse Michael Jackson. Com o corpo cada vez mais debilitado pela idade e com a ausência de Peter Pan e a Terra Nunca, Wendy talvez sentisse que a magia de viver, ainda que existisse, perdera muito o seu brilho, o seu encantamento.
Eu me pego imaginando agora Elizabeth Wendy no hospital, cercada por seus tão amados filhos, prestes a dar seu último suspiro. Com certeza ela não estava feliz em ter que deixar sua família e seus amigos, mas apesar disso a morte não lhe parecia um Capitão Gancho, não lhe causava alegria nem desespero, a morte era somente uma passagem deste mundo sem Neverland pra descansar das tristezas para um mundo em que a Neverland é eterna, em que Capitães Gancho não existem e onde Peter Pan nunca morre.
Sim, Elizabeth ficou triste antes de fechar olhos por ter que se despedir de seus filhos, mas uma vez que eles finalmente se fecharam, uma luz surgiu e ela se viu criança novamente aos nove anos de idade, pele alva, cabelos negros, os olhos cor-de-violeta mais brilhantes do que nunca. A mudança brusca a assustou por um momento, mas logo este sentimento a deixou quando avistou ao longe uma outra criança da sua idade vindo ao seu encontro, um belo menininho negro sorrindo encantadoramente para ela. Quando ele finalmente se aproximou, segurou suas mãos e com uma voz suave e meiga lhe disse:
- Seja bem-vinda, Elizabeth… de volta à Terra do Nunca.