sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

O novo álbum de Michael Jackson: não é ruim, mas muito bom




by David Browne

O Michael Jackson que se ergue do mausoléu em ‘Michael’ não é tão diferente daquele que nos deixou ano passado. O primeiro de 10 álbuns póstumos projetados (sim, 10), Jackson é ouvido em alternância entre seus dois personagens de longa data: o provedor inocente do amor idealizado e o ressentido, amargurado de uma mídia fixada. Sua afeição pelo ‘doce’ e sentimento ainda corre solta, sua voz ainda desliza em um soprano amanteigado, e ele ainda usa guitarras de rock para indicar ‘raiva’ e coros gospel para anunciar ‘inspiração’.

Jackson, é claro, não estava por perto para finalizar a maior parte dessas 10 faixas, as quais foram gravadas tanto no início dos anos 80 quanto recentemente antes de sua morte em 2009. Mas os produtores que o ajudaram têm claramente estudado o que fez a música de Jackson tão singular. ‘Michael’ não é um ‘Off the Wall’ ou um ‘Thriller’; em 2009, aqueles dias estavam tão distantes como sua jaqueta vermelha com zíper. Mas dadas as ‘costuras’ e ‘maquiagens’ – novas pistas construídas ao redor da voz de Jackson – também não é um constrangedor monstro Frankenstein-pop. Contra todas as probabilidades, incluindo todas as duvidosas produções de Jackson nas duas décadas anteriores à sua morte, é um registro assustadoramente crível – uma recriação cuidadosamente montada de seus melhores momentos como artista solo e uma lembrança do porque nós nos importamos com ele, pra começar.

Começando com Dangerous e continuando através de HIStory e Invincible, Jackson claramente se agarrou às formas para recriar seu som em um mundo dominado pelo hip hop. Ele tentou as batidas do New-jack, rappers convidados, e samples de Notorious B.I.G., o que só fez sua música parecer ordinária. Na morte, Jackson está planando no ar novamente. Com seu ritmo nítido e uma escassez do 'bombástico' que inflou tanto o seu trabalho pós-Thriller, as melhores canções aqui evocam a agilidade de sua música, sibilante agilidade.
“Hollywood” tem a qualidade próxima de clássicos como “Billie Jean”, enquanto (I Like) The Way you Love Me” (uma versão anterior e inacabada apareceu em uma compilação de 2004) segue os passos de “The Way You Make Me Feel,” com harmonias mais quentes e menos processadas.

Esta canção e “Best of Joy” foram ambas co-produzidas por Theron “Neff-U” Feemster, cujo trabalho agradável com Ne-Yo se encaixa perfeitamente para Jackson. Intencionalmente ou não, 'Michael' coloca a possibilidade intrigante de que Jackson, se estivesse vivo, poderia ter feito um retorno musical: graças aos atos de Ne-Yo e Beyonce, o R&B tem se balançado para trás ao redor de sua batida menos pesada, grooves mais melódicos.

Jackson até mesmo soa libertado vocalmente. O fraseado preso, de dentes apertados que estrangulou insucessos como “Scream” é raramente ouvido. Na maior parte do álbum, ele soa, mais uma vez, como se estivesse apenas cantando. Mesmo no úmido e gótico “(I Can’t Make It) Another Day” – uma outra fusão rock, desta vez uma colaboração de dez anos atrás com Lenny Kravitz – seus vocais raramente soam tensos. Quando a primeira faixa do álbum, “Breaking News”, foi lançada, um membro da família declarou que a voz não era de Jackson – uma declaração dos advogados de Jackson e antigos produtores o rebateu.
 
Embora sua voz ás vezes seja sufocada em ‘Michael’, o fraseado cuidadosamente preparado ouvido através de tudo não poderia ser de mais ninguém. (A recorrente marca “whoo”s, no entando, sinto que as amostras foram tiradas de seus registros mais antigos.)

Mas se ‘Michael’ é um olhar cheio de promessas do que poderia ter sido, é também um lembrete de que Jackson não era mais o mesmo artista de antes. Para baixo com sua vibe vampiresca, “Monster” trabalha duro para recriar o humor de “Thriller”, embora com o muito menos assustador 50 Cent ao invés de Vincet Price (e um refrão menos memorável). O monstro do título é o paparazzi, quem vai “comer sua alma como um vegetal”, Jackson adverte.

Ele fala de maneira tediosa sobre este tópico duas vezes aqui como na ainda mais auto-importante “Breaking News” – um sinal de que como letrista, ele estava andando em círculos, preso em um mundo abarrotado de suas decisões. As canções de amor soam mais generalizadas do que nunca, e seu moralismo sobre o mal do showbiz fica genuinamente brega em “Hollywood Tonight”, em que ele repreende uma adolescente fugitiva para “dar truques quentes para os homens.” Um dos momentos mais reveladores do álbum aparece em “Keep Your Head Up”, uma balada inspiradora que é uma outra variação do seu estilo “Heal the World”. É sobre uma mulher trabalhadora, mas quando Jackson canta, quase sem fôlego, “Eu não posso respirar/Eu não posso ver!” ele poderia estar falando de si mesmo.
 
O melhor momento de ‘Michael’ não é o maçante single “Hold My Hand’, no qual o rapper Akon é caracterizado quase tanto quanto Jackson. Essa honra vai para “Behind the Mask”. Novamente, Jackson soa jovem, energizado, e sedutoramente irritado; de novo, a música tem uma unidade, um esforço assertivo, ajudado por um sample da extinta banda eletrônica japonesa Yellow Magic Orchestra. “Quem você ama?” Jackson apresenta com uma intensidade de desejo que ele não tinha apresentado nos últimos anos.

Infelizmente, há uma razão para isso: “Behind the Mask” remonta às sessões de Thriller. Muito parecido com o que Thriller fez com suas vendas, essa obra clássica lança uma sombra imponente sobre este ‘novo’ álbum – e faz você se perguntar se os nove álbuns que estão por vir podem manter ainda o mérito inesperado de ‘Michael’. Mas por agora, ao menos, Jackson recebe a aceitável despedida que merecia.

Fonte:
Time Magazine | MJJC | MJJ Secret Lovers
 
 

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