segunda-feira, 21 de março de 2011



Michael Jackson soube unir o enorme talento que possuía ao uso da mídia – e foi isso que o transformou no maior ídolo pop do século 20 – afirma professor da USP

Ele revolucionou a cultura da juventude dos anos 80 ao aparecer com um tipo de música bem diferente da que estava em voga até então. Enquanto os Beatles faziam apologia de uma atitude mais down, Michael Jackson trouxe o elemento lúdico, alegre, com uma coreografia nunca vista antes – e que iria influenciar enormemente os movimentos do hip hop naquela década e muitos artistas das décadas seguintes. Os jovens, sempre mais receptivos a novidades, absorveram essas inovações. Essa análise foi feita ao Jornal da USP pelo professor da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP Waldenyr Caldas, especialista em cultura pop e comportamento.

Segundo ele, para um artista se tornar um fenômeno popular, são necessárias duas coisas: trabalho midiático intenso e talento. “Não há mídia que crie talento, existe apenas a que o aproveita. O de Michael Jackson era extremo e indiscutível, e ele soube trabalhar com isso para ter a máquina midiática a seu favor.”

O professor faz uma comparação com o cantor brasileiro Roberto Carlos, que também conta com esses dois elementos. “Intelectuais podem não gostar de sua música, achá-lo brega (o que é extremamente preconceituoso e é um conceito que precisa ser melhor definido), mas ninguém pode questionar seu talento. Sem isso, ninguém permaneceria por tanto tempo.”

Michael Jackson surgiu nos Estados Unidos, e tudo o que acontece lá ganha dimensões planetárias devido às forças do capital e midiática, acrescenta o professor.
Com o processo de globalização já se intensificando naquela época, não demorou muito para que ele virasse um fenômeno mundial. Nesse aspecto, superou Elvis Presley, que nunca chegou a se apresentar fora dos Estados Unidos. Michael, ao contrário, fez muitos shows em diversos países.

Para o professor, os grandes legados do rei do pop são as suas composições e a sua coreografia. “Michael Jackson era um compositor refinadíssimo, de raro talento. Foi um intérprete, em minha opinião, melhor que Elvis, e um ótimo cantor. E, principalmente, foi um grande coreógrafo. Nisso também era melhor que o primeiro.” Ele acredita que, sem Michael Jackson, a cultura pop ainda estaria mais próxima dos Beatles e dos Rolling Stones, com o deslocamento do eixo principal dos Estados Unidos para a Europa.

As excentricidades – Michael Jackson é daqueles artistas que, muitas vezes, são mais lembrados por suas excentricidades do que pelo seu trabalho. Mas o professor Waldenyr Caldas defende que o talento e o legado de Michael Jackson são superiores a todas elas. “Vários grandes artistas têm disso. Roberto Carlos tem transtorno obsessivo compulsivo, mas as pessoas não focam essas coisas, e sim o seu trabalho.”

“Michael sempre permaneceu muito imaturo psicologicamente”, diz o professor. “Mas talvez tenha sido isso o que o deixasse livre para fazer os movimentos que ele fazia. Imagine um adulto dançando daquele jeito, quando nunca ninguém havia feito isso antes.” Jackson tinha a liberdade de uma criança para dançar e criar.

Ele também introduziu um novo conceito e uma nova forma de fazer videoclipes. Se antes o comum eram vídeos com colagens de imagens ou simplesmente mostrando um show do artista, Michael criava enredos e fazia altíssimos investimentos em profissionais e efeitos especiais avançados para a época. Alguns recursos desenvolvidos para eles são usados até hoje. O vídeo de Scream (1995) custou US$ 7 milhões e foi o mais caro da história.
Jackson levou cineastas como Martin Scorsese (Bad) e Spike Lee (They don’t care abort us) para dirigi-los, mas as ideias principais eram sempre dele. “É impressionante, ele que criava tudo. Scorsese só fazia o que ele pedia.” Para fazer o clipe de Thriller (1982), ele chamou o cineasta John Landis. O resultado foi um curta-metragem de 14 minutos que teve uma enorme influência sobre os clipes que vieram depois.

Lacuna
– O professor acredita que a importância de Michael Jackson para a música e a cultura de uma forma geral está no mesmo patamar que a dos Beatles e Rolling Stones. E diz que, num cenário em que os fenômenos musicais parecem todos passageiros e descartáveis, é difícil que algum artista possa se tornar o sucessor do “rei do pop”.

“Depois dos anos 80, começa a se fragmentar a imagem do ídolo. Michael Jackson foi um dos últimos artistas a obter um destaque tão grande. Antes, quando alguém lançava um disco, era um acontecimento. Toda a mídia anunciava. Hoje existem tantos ídolos que ninguém sabe quando há um álbum novo”. Para ele, na área dos esportes ainda existem grandes ícones e o mundo ainda para por alguns deles. Mas ainda assim também é mais fragmentado do que antes. “Pelé hoje não seria único, por exemplo”, diz.

Waldenyr Caldas considera que talvez Prince pudesse ocupar o posto vago deixado por Michael Jackson. “Ele tem muito talento. Não poderia ocupar de fato o lugar de Michael, que é único, e Prince, apesar de bom cantor, não dança igual e não tem nenhum jogo de cintura. Mas talvez pudesse sucedê-lo como ícone do pop, apesar de ter aparecido um pouco antes.”


Fonte:
Jornal da USP

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